MPBA recomenda interrupção da remoção da comunidade religiosa do Ilê Axé Oyá Onira’D

A recomendação aponta
prazo de 15 dias para realização dos rituais religiosos necessários à
transferência dos objetos sagrados do terreiro
O Ministério Público da
Bahia (MPBA), por meio da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à
Intolerância Religiosa, recomendou ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos do Estado da Bahia (Inema) a interrupção imediata das intervenções de
remoção da comunidade religiosa do Ilê Axé Oyá Onira'D. Foi recomendada a
concessão, às lideranças do Terreiro, de prazo de 15 dias para que realizem os
rituais religiosos necessários à transferência dos assentamentos e outros
objetos sagrados que permanecem no local. A
recomendação foi expedida nesta quarta-feira, dia 18, após ações de
demolição realizadas no último dia 10 pelo órgão ambiental no terreiro,
localizado na área do Parque de Pituaçu, em Salvador, sob a justificativa de
que ele ocupava irregularmente uma área pública. Há denúncias de que a
demolição foi realizada sem prévio diálogo com a comunidade.
Segundo a promotora de
Justiça Lívia Sant’Anna Vaz, a medida pode configurar violação de direitos
fundamentais, como a liberdade religiosa e a proteção ao patrimônio cultural
imaterial, assegurados pela Constituição Federal, convenções internacionais e legislações
estaduais e municipais. Ela pontuou que o caso coloca em questão o equilíbrio
entre o direito à proteção ambiental e o respeito à liberdade religiosa. “A
prevalência de um direito fundamental não deve ocorrer de modo a esvaziar
completamente o sentido do direito fundamental supostamente em conflito”,
afirmou, citando jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF). A
promotora ressaltou ainda que intervenções seletivas, que afetem
especificamente comunidades religiosas afro-brasileiras, podem configurar
racismo religioso institucional, uma grave violação dos direitos
humanos.