Food trucks crescem no Brasil com agilidade, público fiel e potencial global

Com modelo de negócio
flexível e custos reduzidos, food trucks conquistam mercado e seguem em
expansão no Brasil e no mundo. Com operações ágeis, custo inicial reduzido e
alta capacidade de adaptação, os foodtrucks têm ganhado espaço no setor de
alimentação fora do lar no Brasil e no mundo.
Dados da mais recente
análise de mercado estimam que o setor global deve saltar de US$ 4,15 bilhões
em 2024 para US$ 6,87 bilhões até 2029, crescendo a uma taxa composta de 6,5%
ao ano. No Brasil, cases como o do Cozinha dos Fundos, de Cuiabá (MT), e do
Extraordinário Food Truck, de Minas Gerais, mostram como a combinação de
mobilidade, marca forte e gestão estratégica está transformando esse modelo de
negócio em uma oportunidade promissora.
Glayber Ferreira atua com
o Extraordinário Food Truck desde 2018, percorrendo dezenas de cidades mineiras
como Capitólio, Sabará, Itabirito, Brumadinho e Diamantina. Com um cardápio que
gira em torno de hambúrgueres artesanais em 80% dos eventos, Glayber adapta os
pratos conforme o perfil do público e do contratante. A estrutura do truck é
sempre a mesma, mas o cardápio é ajustado conforme o evento, uma estratégia que
permite personalização sem perder a identidade da marca.
Segundo ele, o número de
food trucks cresceu bastante nos últimos anos, mas isso não é visto como um
problema, e sim como um incentivo para manter a excelência.
“Costumo ir em busca dos
clientes pelas redes sociais, Instagram principalmente. Atualmente tenho
recebido bastante procura por indicações”, afirma. A recomendação boca a boca é
um sinal de que a reputação construída ao longo do tempo é um ativo valioso no
setor.
Já Márcio Augusto
Patrício, do Cozinha dos Fundos, tem longa experiência com foodtruck e com
restaurante fixo. Seu truck foi o primeiro de Cuiabá e começou a operar em
2015. Hoje, funciona de forma integrada ao restaurante principal. Para ele, o modelo
móvel é eficiente principalmente quando há uma estrutura de base por trás. “A cozinha
do food truck é basicamente uma cozinha de finalização. A gente precisa ter outra
cozinha de produção, que fornece os insumos. A operação se torna vantajosa
porque temos essa
estrutura”, explica.
O modelo também se destaca
pela economia com equipe fixa. “Hoje conseguimos ter pessoas fixas também no
food truck pela demanda de eventos que atendemos. Mas, geralmente, quem tem
food truck trabalha com mão de obra terceirizada, porque é só aos finais de
semana ou a cada 10 dias. Lidar com a questão de mão de obra é a principal
diferença em relação ao restaurante”, comenta.
Uma pesquisa da Abrasel de
março deste ano revela uma dificuldade para contratação de mão de obra no
setor: 90% dos empresários consideraram difícil ou muito difícil contratar
novos funcionários. Os motivos para a dificuldade de contratação são dois: a escassez
de profissionais bem qualificados (64%) e a falta de interessados nas vagas (61%).
George Rodrigues,
proprietário do My Burger Brasil, em Recife, apresenta um outro ponto a ser
considerado na operação dos food trucks. Precisamos garantir um abastecimento
de energia adequado e estável, o que é muito complicado, e prejudica muito a
operação e abastecimento de água. Isso é essencial para garantir a limpeza e segurança
na manipulação dos alimentos, diz. Fast food, mobilidade e eventos impulsionam
o setor global O crescimento do mercado de food trucks não está isolado: ele
acompanha tendências globais como a popularização da alimentação rápida e o
aumento no custo dos imóveis urbanos. Em muitas cidades, abrir um restaurante
com ponto fixo exige investimentos elevados, o que torna o food truck uma
alternativa acessível para novos empreendedores. Além disso, grandes redes de
restaurantes também têm apostado em trucks como forma de alcançar novos
públicos em locais estratégicos.
A demanda crescente por
fast food é um dos pilares do crescimento. Segundo a análise de mercado, o
comportamento alimentar das novas gerações — principalmente estudantes e
trabalhadores urbanos — favorece alimentos processados, rápidos de preparar e
servidos em formato “take away”. A urbanização acelerada e o crescimento da
força de trabalho feminina também criam demanda por soluções práticas e
convenientes, como os food trucks.
Em nível global, os
Estados Unidos são um dos maiores exemplos de maturidade desse mercado.
Atualmente, o país tem mais de 35.500 food trucks em operação. A receita anual
desses negócios varia de US$ 250 mil a US$ 500 mil por unidade.
Estados como Califórnia,
Texas e Flórida concentram a maioria das operações, impulsionadas por fatores
como turismo, clima favorável e cultura de festivais de rua.
Na Califórnia, por
exemplo, há mais de 750 empresas do setor.
A Europa também vive uma
expansão do segmento, em especial com o crescimento de festivais gastronômicos.
Em março de 2022, o Europe Street Food Festival, realizado na Áustria, reuniu
centenas de expositores operando diretamente de foodtrucks. O continente ainda
se destaca pela adoção de vans elétricas e híbridas,tendência crescente entre
empreendedores que buscam unir sustentabilidade e mobilidade. As vans
representaram mais de 90% das vendas globais de veículos desse tipo em 2021.
O avanço tecnológico
também abre novas possibilidades. No Canadá, a rede Loblaw, em parceria com a
empresa Gatik, lançou caminhões de entrega de alimentos autônomos em outubro de
2022. Por enquanto, os veículos operam na região de Toronto, mas sinalizam o
potencial de inovação em serviços móveis de alimentação.
Food truck: um negócio com
propósito e identidade
Apesar de toda a
mobilidade e praticidade envolvidas, o sucesso de um food truck depende
fortemente do atendimento e qualidade. Para Glayber Ferreira, a concorrência
aumentou muito nos últimos anos. “Acredito que muitos imaginam ser um modelo de
negócio fácil”, analisa.
Esse envolvimento
emocional com o cliente também é percebido por Márcio Augusto, que vê no food
truck uma oportunidade de conexão mais direta com o consumidor.
Para ele, mais do que uma
operação enxuta, o modelo móvel é uma extensão da cultura da marca. “É uma
extensão do nosso restaurante, a gente sempre consegue atrair um público novo.
Porém, muitos dos clientes que frequentam os eventos é um público que já
conhece a nossa qualidade”, diz.
Combinando mobilidade,
baixo investimento inicial, forte apelo visual e capacidade de adaptação a
diferentes públicos e eventos, os food trucks continuam a conquistar consumidores
e empreendedores. E se depender das tendências globais, da criatividade dos
empresários e da crescente busca por experiências gastronômicas
únicas, o mercado de food
trucks ainda tem muito espaço para crescer.