Vereador de Caxias do Sul é condenado por ofensas aos baianos

O vereador Sandro Fantinel
(PL), de Caxias do Sul (RS), foi condenado a pagamento de R$ 100 mil de
indenização por danos morais coletivos devido a manifestações xenofóbicas e
discriminatórias contra a população nordestina, especialmente contra trabalhadores
baianos.
A decisão da Justiça Federal
acatou um pedido do Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do
Estado do Rio Grande do Sul (MP-RS) e sete entidades da sociedade civil.
No texto da sua ação, o MPF
analisa os atos discriminatórios praticados pelo réu sob o prisma do racismo
estrutural existente no país. “As ideias manifestadas pelo vereador compõem o
pensamento de parcela significativa da população local, o que não exime o réu
de culpa, mas ao contrário, a agrava por ser um representante eleito que
deveria servir de exemplo de cidadania”, reforça o texto da decisão judicial.
Segundo frisa o MPF, o
vereador ignorou o fato de que as pessoas resgatadas pelos órgãos de
fiscalização do trabalho eram mantidas no local contra a vontade, submetidas a
jornadas exaustivas, com alimentação inadequada para consumo e com relatos,
inclusive, de tortura com armas de choque e spray de pimenta. Apesar disso, o
réu insinuou que as condições em que foram encontrados os trabalhadores seriam
“normais” na Serra Gaúcha e que “eles queriam trabalhar 15 dias e ganhar por
60”.
“O discurso do réu influencia
e sugere atitudes preconceituosas e xenofóbicas, legitimando empregadores
locais a pensar que não necessitam dar condições adequadas de trabalho”,
destacou a sentença judicial que condenou o vereador.
O valor de R$ 100 mil será
destinado a um fundo público voltado a ações coletivas, com gestão
compartilhada entre conselhos, Ministério Público e representantes da
sociedade. Os bens do vereador já estavam bloqueados por decisão judicial
anterior. Como se trata de sentença em 1º grau, ainda cabe recurso à instância
superior.
Entenda o Caso
Em fevereiro de 2023, durante
pronunciamento na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, Sandro Fantinel culpou
os baianos resgatados em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves, por
suas condições de trabalho.
“Todos os agricultores que
têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores,
corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda
agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”, apontou
Fantinel.
“Agora com os baianos, que a
única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se
fosse ter esse tipo de problema. Deixem de lado aquele povo que é acostumado
com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente, que isso sirva de
lição… Se estava tão ruim a escravidão, como que alguns do próprio grupo não
quiseram ir embora?”, concluiu.