Brasil abre evento do Brics pedindo fim de guerras e de tensões

O ministro das Relações
Exteriores, Mauro Vieira, cobrou a atuação diplomática de países do Brics
– grupo que reúne 11 nações emergentes e em desenvolvimento – para a busca de
solução de guerras e conflitos regionais.
A declaração do chanceler
brasileiro foi feita nesta segunda-feira (28), durante abertura do
encontro de ministros de Relações Exteriores do Brics, que vai até
amanhã no Rio de Janeiro.
Entre os presentes na sala
onde Vieira fez o pronunciamento estava Sergey Lavrov, o chanceler da Rússia, país em
guerra com a Ucrânia. A guerra teve início após a Rússia
invadir o país vizinho em fevereiro de 2022, sob a alegação de que a
aproximação da Ucrânia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) –
aliança de países ocidentais - colocava em risco a segurança russa.
Nesta segunda-feira, a Rússia declarou cessar-fogo unilateral de três dias, de 8 a
10 de maio, para lembrança da vitória contra os nazistas na Segunda
Guerra Mundial (1939-1945).
No discurso aos demais
chanceleres, Vieira não citou nominalmente a Rússia.
“O conflito na Ucrânia
continua a causar pesado impacto humanitário, ressaltando a necessidade urgente
de uma solução diplomática que defenda os princípios e os propósitos da Carta
das Nações Unidas”, disse o ministro.
Vieira lembrou que, em um
esforço para o fim da guerra, o Brasil e a China - outro integrante do Brics -
organizaram uma reunião de alto nível em setembro do ano passado, em Nova York,
nos Estados Unidos, que levou a criação do Grupo de Amigos da Paz, reunindo
países do Sul Global – nações em desenvolvimento, localizados principalmente no
hemisfério sul.
“Permanecemos comprometidos
em continuar trabalhando pela paz e por uma solução política para o conflito”,
disse o diplomata brasileiro.
O ministro lembrou conflitos
que não possuem envolvimento direto de integrantes do Brics. Ele deu
destaque à “situação devastadora nos territórios palestinos ocupados”,
invadidos por Israel em outubro de 2023, após o Estado judeu sofrer ataques e
sequestros do grupo extremista palestino Hamas.
“A retomada dos bombardeios
israelenses em Gaza e a obstrução contínua da ajuda humanitária são
inaceitáveis. O colapso do cessar-fogo anunciado em 15 de janeiro é
deplorável”, disse Vieira.
O ministro pediu às duas
partes envolvidas esforços para cumprirem integralmente os termos do acordo e a
se engajarem em prol de uma cessação permanente das hostilidades.
“É necessário assegurar a
retirada total das forças israelenses de Gaza, assegurar a libertação de todos
os reféns e detidos e garantir a entrada de assistência humanitária”.
O Brasil defende, afirmou o
ministro, a solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e
viável, dentro das fronteiras de 1967, e com Jerusalém Oriental como sua
capital, vivendo lado a lado com Israel.
A situação critica no Haiti,
em que a ordem pública foi desmantelada por gangues armadas, e tensões no
Sudão, na região dos Grandes Lagos e no Chifre da África, também foram citadas.
O ministro defendeu
que em zonas de conflito o acesso à ajuda deve ser incondicional e
imparcial. “O sofrimento humano jamais deve ser instrumentalizado”, declarou.
Mauro Vieira manifestou que o
caminho para a paz “não é fácil nem linear”, mas que o Brics pode e deve ser
uma força para o bem, “não como um bloco de confronto, mas como uma coalizão de
cooperação”.