A literatura transforma vidas

No dia Mundial do Livro, jornalista sergipana chama a atenção para a Biblioterapia, prática que utiliza a literatura como forma de cuidado

 

Já ouviu falar no poder da palavra? E de um livro? Multiplique esse potencial quando a mensagem poderosa que um livro propaga é utilizada intencionalmente como ferramenta de autoconhecimento em vivências de Biblioterapia. Neste dia 23 de abril, Dia Mundial do Livro, a jornalista Carla Sousa chama a atenção para a ciência que faz uso da literatura com a finalidade de proporcionar acolhimento e suporte no desenvolvimento pessoal e na prática de autoconhecimento tem conquistado muitos adeptos no Brasil. “Sempre gostei de escrever, não vivo sem um caderninho por perto. A relação com a leitura e a escrita só se acentuou com a Biblioterapia”, revela a autora do livro Biblioterapia & Mediação Afetuosa da Literatura.

Assim como Penelope Fetherington em Bridgertons, a escritora que herdou a paixão por livros de seu pai, Carla Sousa escolheu a graduação em comunicação justamente por amar escrever, quase uma lady Whistledown moderna. Mas, com o tempo, o encantamento pela palavra foi se perdendo diante da exaustiva rotina jornalística. Até que o brilho nos olhos pelos escritos carregados de subjetividade a levaram a decidir por uma mudança de carreira. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe e com mestrado em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina, ela descobriu a Biblioterapia em 2012. A identificação foi tamanha que decidiu se especializar na área, mudando-se de Aracaju para Florianópolis, onde fez o mestrado e vive até hoje. “A Biblioterapia transforma vidas a começar pela minha e de tantos profissionais que decidem trilhar essa caminhada apaixonante e se tornar multiplicadores dessa prática tão poderosa”.

Carla fez da paixão uma profissão e, desde 2017, vive exclusivamente do trabalho com Biblioterapia. As vivências curativas que nascem a partir dos livros e do desejo de acolher histórias reais se tornaram mais que um ofício, um propósito de vida. Cada vivência profunda que promove com sensível mediação só aumenta a certeza dos benefícios das imersões literárias e terapêuticas. “A Biblioterapia é uma prática de cuidado com o ser humano que utiliza os textos literários como recurso na promoção de saúde, bem-estar e qualidade de vida”, explica Carla. Com quase 50 mil seguidores no Instagram  e Youtube Doses de Biblioterapia, Carla contabiliza, ao logo dos anos, mais de 2 mil participantes nas formações, remotas e presenciais. Sem contar o número bem maior de pessoas que conheceram a Biblioterapia através dos conteúdos disponibilizados em suas redes sociais.

 

Carla teve como orientadora a professora Clarice Fortkamp Caldin, principal referência em Biblioterapia na época. Hoje, ela própria é uma referência no tema. O curso, lançado desde 2020, reúne interessados não só do Brasil, mas de alguns outros países, em especial Portugal onde reúne uma comunidade de dezenas de alunos. “Acredito que é possível construir uma rede de pessoas conscientes do poder terapêutico da literatura que possam usar esse recurso para promover uma sociedade mais saudável. Não podemos mais fugir da questão da saúde mental, precisamos encarar e buscar formas de suavizar e prevenir os danos. E, nesse sentido, a Biblioterapia se apresenta como uma prática inclusiva, democrática e poderosa”, defende. 

 

A missão ousada de formar multiplicadores nessa prática transformadora já está sendo consolidada. A administradora Andréa Castro de Melo, 46 anos, é natural de Sorocaba e uma de suas alunas. Escritora e palestrante, ela descobriu o curso na pandemia. “A primeira transformação que senti foi em mim, ganhei um modo de olhar o mundo com mais sensibilidade e empatia”, define. Hoje Andrea se considera uma Empreendedora da Biblioterapia e coleciona experiências marcantes através das práticas. “Um momento que trago em meu coração foi de uma pessoa adulta em uma das minhas vivências agradecendo. Ela disse que tinha sido a primeira vez que alguém leu para ela acolhendo a sua criança interior sedenta de cuidado”, conta.  

 

A paulista Maria Adalgiza Pinto, 62 anos, encontrou na Biblioterapia nova razão de viver.  Ela, que sempre foi fascinada por literatura, a ponto de perder a noção do tempo diante dos livros adolescência a ponto de esquecer dos afazeres, que já foi gestora de uma biblioteca pública, descobriu a Biblioterapia na aposentadoria. “Foi amor à primeira escuta, passei a pesquisar, fazer cursos... e agora estou iniciando a prática profissionalmente. Tem sido um momento de muitas descobertas”. O tempo livre de Adalgiza agora é mais prazeroso quando consegue promover encontros curativos de outras pessoas com os livros. “Muitas vezes, são pessoas que não tiveram oportunidade de estudar ou acesso à literatura. A conexão deles, nos encontros, com os textos e pequenos objetos relacionados ao texto e ao tema, desperta emoções muito fortes e memórias especiais. E essas experiências que me tocam, me transformam, me ajudam a entender o processo de envelhecimento que vivo. E me dão energia para olhar o mundo com mais alegria e esperança”, conclui.

Os cursos Biblioterapia Primeiros Passos e a Formação Avançada de Mediadores de Biblioterapia - único reconhecido pelo MEC com carga-horária de 150 horas - seguem recebendo novos interessados em mergulhar na prática. “Eu vejo muitas alunas renascendo depois que encontram a Biblioterapia. Eu gosto sempre de destacar, que primeiro é preciso se nutrir com a Biblioterapia para depois transbordar para os outros”, defende Carla Sousa. O curso inicial está disponível on-line com aulas gravadas e o avançado inclui laboratórios e vivências em grupo com acompanhamento em tempo real. As inscrições podem ser feitas através do link na bio do instagram @dosesdebiblioterapia ou pelo site:  https://dosesdebiblioterapia.com.

 

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