Copom mantém decisão e juros básicos alcança 14,25% ao ano

A alta do preço dos alimentos e da energia e as incertezas em torno da
economia global fizeram o Banco Central (BC) aumentar mais uma vez os juros.
Por unanimidade, o Comitê de
Política Monetária (Copom)
aumentou a taxa Selic, juros básicos da economia, em 1 ponto
percentual, para 14,25% ao ano.
Em comunicado, o Copom afirmou que as incertezas externas,
principalmente pela política comercial do país, suscitam dúvidas sobre a
postura do Federal Reserve (Fed, Banco Central norte-americano). Em
relação ao Brasil, o texto informa que a economia brasileira está aquecida,
apesar de sinais de moderação no crescimento.
Segundo o Copom, a inflação cheia e os núcleos (medida que exclui preços
mais voláteis, como alimentos e energia) continuam em alta. O órgão
alertou que existe o risco de que a inflação de serviços continue alta e
informou que continuará a monitorar a política econômica do governo.
“O comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da
política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A
percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da
dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as
expectativas dos agentes.”, destacou o comunicado.
Em relação às próximas reuniões, o Copom informou que elevará a
Selic “em menor magnitude” na reunião de maio e não deixou pistas para o
que acontecerá depois disso.
“Para além da próxima reunião [a partir de junho], o Comitê reforça que
a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme
compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da
dinâmica da inflação”, ressaltou.
Além de esperada pelo mercado financeiro, a
elevação em 1 ponto havia sido anunciada pelo Banco Central na reunião de
janeiro.
Essa foi a quinta alta seguida da Selic. A taxa está no maior nível
desde outubro de 2016, quando também estava em 14,25% ao ano. A alta consolida
um ciclo de contração na política monetária.
Após chegar a 10,5% ao ano de junho a agosto do ano passado, a taxa
começou a ser elevada em setembro do ano passado, com uma alta de 0,25 ponto,
uma de 0,5 ponto e duas de 1 ponto percentual.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob
controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial, ficou em 1,48%. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o fim do bônus de Itaipu sobre a
conta de luz e o preço de alguns alimentos contribuíram para o índice.
Com o resultado, o indicador acumula alta de 4,87% em 12 meses, acima do teto da meta do ano passado. Pelo novo sistema de
meta contínua em vigor a partir deste mês, a meta de inflação que deve ser
perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3%, com
intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou
seja, o limite inferior é 1,5% e o superior é 4,5%.
No modelo de meta contínua, a meta passa ser apurada mês a mês,
considerando a inflação acumulada em 12 meses. Em março de 2025, a inflação
desde abril de 2024 é comparada com a meta e o intervalo de tolerância. Em
abril, o procedimento se repete, com apuração a partir de maio de 2024. Dessa
forma, a verificação se desloca ao longo do tempo, não ficando mais restrita ao
índice fechado de dezembro de cada ano.
No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de dezembro pelo Banco
Central, a autoridade monetária manteve a previsão de que o IPCA termine 2025 em 4,5%, mas a estimativa
pode ser revista, dependendo do comportamento do dólar e da inflação. O próximo
relatório será divulgado no fim de março.
As previsões do mercado estão mais pessimistas. De acordo com o
boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras
divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 5,66%, mais de 1 ponto
acima do teto da meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 5,6%.
O comunicado do Copom trouxe as expectativas atualizadas do Banco
Central sobre a inflação. A autoridade monetária prevê que o IPCA chegará
a 5,1% em 2025 (acima do teto da meta) e 3,9% no acumulado em 12 meses no
fim do terceiro trimestre em 2026. Isso porque o Banco Central trabalha com o
que chama de “horizonte ampliado”, considerando o cenário para a inflação em
até 18 meses.
O Banco Central aumentou as estimativas de inflação. Na reunião
anterior, de janeiro, o Copom previa IPCA de 5,2% em 2025 e de 4% em 12 meses
no fim do terceiro trimestre de 2026.