Políticos e jornalistas revivem 8 de janeiro: dia entrou para história
O conjunto de invasões e
depredações nos prédios da Praça dos Três Poderes em Brasília na tarde de 8
janeiro de 2023, um domingo, chocou pela violência protagonizada por
manifestantes bolsonaristas, mas não surpreendeu a todos os personagens
que, por razões de ofício, acompanham o cotidiano institucional da capital
federal, como jornalistas e políticos.
Naquele dia, a senadora
Eliziane Gama (PSD-MA) recorda-se que estava em sua casa em São Luís, depois de
ter ido à Assembleia de Deus, onde atua como professora de escola bíblica
dominical, quando viu uma mensagem em grupo de Whatsapp com imagens de destruição
em Brasília.
“Eu falei: gente, isso aqui
não pode ser verdade. Isso é uma montagem, não é verdade”, contou ao programa Caminhos
da Reportagem, da TV Brasil, com participação
da Agência Brasil.
Assustada, a parlamentar foi
à casa de sua mãe onde a televisão estava transmitindo a barbárie ao vivo.
“Eu fiquei estarrecida. Levei
minutos para acreditar no que estava vendo”, diz se recordando da multidão
subindo a rampa do Congresso Nacional, quebrando vidros do prédio e ocupando um
pedaço do Senado Federal, onde cumpre mandato há cinco anos.
O impacto foi revivido quando
na segunda-feira seguinte (9), de volta de São Luís, Eliziane Gama encontrou
“um ambiente desolador, de guerra” no Senado. “Parecia um filme de terror: o
prédio totalmente escuro, [com] o chão totalmente molhado, [e] as vidraças
destruídas. Você não conseguia caminhar dentro do Congresso Nacional.”
Ainda pasma com a
voracidade destrutiva dos invasores, a senadora revela que a possibilidade de
distúrbio ainda que absurda estava no horizonte.
“O que ocorreu era algo que a
gente vigiava, que a gente dizia que não pode acontecer, mas a gente nunca
parou para pensar e dizer que isso vai acontecer.”
Na opinião de Eliziane Gama,
que foi relatora da CPMI do 8 de janeiro, tudo que se viu foi semeado durante
anos por Jair Bolsonaro quando ocupava a Presidência da República (2019-2022) e
atentava contra a democracia.
“Ele questionava o processo
da eleição, colocava em xeque a vulnerabilidade da urna eletrônica. Então, essa
coisa de criar uma instabilidade do processo democrático, ele automaticamente
criou um colchão de condições para que o movimento mais extremista brasileiro
chegasse ao que nós acompanhamos no 8 de janeiro.”
Assinatura de Bolsonaro
O 8 de janeiro tornou-se uma
data na qual as pessoas costumam lembrar onde estava, e o que estavam fazendo
quando receberam a notícia de impacto, como aconteceu nas transmissões do
primeiro pouso do homem na lua (1969), do acidente fatal de Ayrton Senna (1994)
ou do choque dos aviões contra as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova
York (2001).
Como aconteceu com a
senadora, a jornalista e escritora Bianca Santana lembra-se vivamente onde
estava quando soube dos incidentes: tinha aterrissado em Brasília vindo de São
Paulo naquela tarde de domingo. Ainda estava no avião quando começou a receber mensagens
no celular indagando se tinha chegado bem.
Curiosa, começou a pesquisar
no aparelho o que estava acontecendo. Uma amiga a buscou no aeroporto da
capital federal e a levou direto para casa.
“A gente decidiu ficar
recolhida. Nem saiu para comer.”
Para Bianca Santana, a
intentona que viu inicialmente pela tela do celular “tinha uma assinatura muito
forte.” Ela rememora que Jair Bolsonaro instigou a balbúrdia, esvaziando a
credibilidade do sistema de votação. “Ele anunciou inúmeras vezes que não aceitaria
o resultado das urnas.” Para ela, o ex-presidente “o tempo todo colocou em
xeque a confiança da população no processo eleitoral. Isso já é um processo de
tentativa de golpe.”